As tendências de 2025 na música
Inteligência Artificial, mudanças climáticas, nostalgia que não vende, desilusão com redes sociais e tudo que pode aparecer no meio desse caminho.
Ainda existe otimismo por aí?
Inauguramos essa plataforma nesse tom justamente para enxergar caminhos para o fim do túnel. Claro, é importante dizer que esse conteúdo é um complemento da nossa postagem do instagram. Se você sentia que alguns conteúdos nossos renderiam mais conversa e discussão, saiba que nós também. Isso significa que teremos um espaço maior para conversas e, claro, um ambiente um pouco mais seguro contra a violência algorítmica.. Dessa forma, recomendamos fortemente que
se inscrevam por aqui para mais conteúdo.
Ah, mais uma coisa: teremos uma newsletter mensal com insights, recomendações, dicas culturais e maior participação individual da misteriosa equipe por trás da 300noise.
Esse é nosso terceiro ano praticando futurologias sobre a música. Nosso terceiro ano nos debruçando em algo que não somente depende de diversos fatores, mas também partilha de diversas realidades, ou melhor, diversas bolhas. E para isso precisamos encarar a fragmentação virtual como ponto de partida.
Nem todos se surpreenderam ao ver a alta cúpula das Big Techs reunida para a posse de Donald Trump. E não é novidade ter plataformas operando no campo político em prol de seus interesses. Em 2018, durante a eleição que colocaria Trump à frente da Casa Branca, os escândalos envolvendo o Facebook e a Cambridge Analytica tomaram conta da internet. Outra novela interminável é a do Tik Tok e seu banimento em território americano. Porém, neste caso, temos um olhar direcionado para uma comunidade de usuários que parece entender a dependência criada pelas plataformas e busca mudança no fortalecimento da comunidade que se forma dentro do espaço. Fenômeno esse que pode ser equiparado com a aderência de brasileiros ao Blue Sky após bloqueio do Twitter.
Com isso enxergamos algo:
Artistas em fuga
O Spotify fez uma doação milionária para a posse de Donald Trump e convidou figuras duvidosas para estarem presentes na cerimônia: Joe Rogan (que não compareceu), Ben Shapiro e Tim Pool. A decisão, lida como um aceno ao governo republicano, também guia ponto de atenção para o núcleo de produção de podcasts da plataforma. Nicho extremamente volátil de foco por parte da empresa sueca.
Se um aceno para setores da extrema-direita, negacionistas e filhotes do apartheid já parece absurdo, não precisamos nem entrar na discussão sobre o uso de inteligência artificial em abundância. Ou melhor, se não imagina o tamanho desse buraco, basta ouvir nosso podcast, Seletor Fantasma. Em síntese, o descontentamento pela plataforma, pela métrica de pagamento e pela inquietação de entrar ou não em playlists editoriais e torcer para a conversão funcionar, é o caldeirão perfeito para a fuga dos artistas, principalmente os menores.
A saída? Refletir sobre a experiência dos usuários frente à dependência de uma única plataforma. Compreender a própria comunidade que foi criada nesse ambiente e fortalecer a conexão em detrimento ao local.
Um passo para trás para repensar:
Se um artista já não enxerga um futuro promissor com plataformas de streaming, a realidade dos palcos não foge muito disso. Nessa semana, o festival Hinterland anunciou reembolso para ingressos em caso de temperatura elevada durante o dia de evento. Alguns países, como a Austrália, já sentem o impacto das mudanças climáticas no setor.
A desconfiança em cima dos megafestivais não está somente no público que fica com medo do artista favorito cancelar ou de comprar um ingresso antecipado e se arrepender, mas também nos patrocinadores que pensam no prejuízo que sua marca vai tomar em caso de falta de estrutura adequada e segurança para o público (sim, pensam no prejuízo da marca, não nas vidas). Mas quem está de olho nessa balança é também o artista, seja ele a figura que encabeça o evento, ou aquele que vai abrir para dúzias de pessoas debaixo de um sol escaldante em meio a um descampado.
Nesse ponto, seguindo a mesma lógica da dependência de plataformas, o rumo a ser tomado pode ser o do fortalecimento das comunidades. Se uma rota de shows está sendo idealizada para conectar e descentralizar turnês de capitais, é apenas reflexo. Construção e cruzamento de comunidades são parte fundamental do underground e dos diversos nichos de música independente. Olhar para esses ecossistemas não é questão de aprendizado, mas de sobrevivência.
Hauntologia
Se nossa reflexão vai ao encontro da desesperança e das saídas que os processos criativos buscam, não podemos deixar de falar sobre a válvula de escape pautada em hedonismo. Se usamos o termo hauntologia, não é somente para evocar o neologismo proposto por Jacques Derrida e repensado por Mark Fisher para trabalhar a noção de um futuro perdido, mas para buscar elementos do fenômeno dentro da própria trajetória da música pop. E nesse sentido, você não pode deixar de ler ESSE TEXTO para entender sobre o que estamos falando.
A música como artigo fashion
Talvez a volta de tocadores de CD não estivesse no seu bingo, mas estava no nosso. E, bem, não estamos falando sobre algo para o grande público, mas talvez esses nem de fato existam. No início do ano apontamos para o nicho que pipocava pelo Tik Tok, o Frutiger Aero e sua recomposição de tempos mais simples, com discadores de banda larga e plástico translúcido cobrindo a fiação de uma CPU, deixando seu usuário orgulhoso dos avanços tecnológicos feitos pelo ser humano. Nesse universo o CD opera dessa forma. Não somente um objeto que serve para músicas, mas uma expansão de terrenos (basta se lembrar das revistas que vinham com um CD de instalação, os programas de computador vendidos em caixas e até mesmo as versões pirateadas que eram encontradas em feiras e avenidas de bairro. Se o Aespa lançou um cd player para divulgar seu novo álbum, não foi pensando no uso prático, mas nessa mesma expansão e, claro, em uma boa dose de exclusivismo em cima da base de fãs.
A música sempre foi explorada pelo universo fashion, mas a lógica do consumo de nichos possibilita uma infinidade de desdobramentos. Sim, estamos falando da música ser um apetrecho que surge como a foto de um copo quebrado que foi fotografado para o dumb do mês. Transportar a música para o campo da estética é algo que se traduz cada vez mais em nichos buscando interconexões e a publicidade é a amarra. Seguimos com colaborações entre a Adidas e o Korn, com lojas-capsulas de marcas de calçados que agregam vitrolas e discotecagens ao seu universo e edições de vinil luxuosas que se voltam apenas para personalidades vitrínicas e não para fãs devotos. No raciocínio de Lipovetsky: “Para além das manifestações reais de homogeneização social, a publicidade trabalha, paralelamente à promoção dos objetos e da informação, na acentuação do princípio da individualidade”.
Poderíamos falar sobre o britpop, mas essa reflexão fica para uma próxima (sem promessas, ok?).
Somos novos nessa plataforma, então queremos pedir sua ajuda para expandir nossa voz. Conhece alguém que pode se interessar pelo nosso conteúdo? Compartilhe! E não perca, em breve você também vai receber nossa
newsletter mensal.
Se cuide!
arassam
mto foda ein