Os dados do lineup do Lollapalooza Brasil e uma análise de cenários do mercado da música.
Um passeio por insights, gráficos e análises do ponto de vista da 300noise sobre um dos maiores festivais do Brasil.
Vocês já devem estar carecas de saber que a 300noise gosta de analisar, pesquisar e refletir sobre ‘mega’ festivais de música (mesmo que isso não represente nem 5% do nosso conteúdo, para você que gosta de números). Ou seja, eventos que estão intrinsicamente conectados com marcas, companhias de mídia, bancos e gigantes do A&B. Não só acreditamos que esses eventos refletem interesses publicitários, mas também guiam tendências no campo do marketing para o que tange a música, seus criadores e profissionais do setor. Dessa forma, voltar os olhos para esses palcos e para a construção de sua programação é também voltar os olhos para um macro ambiente do consumo musical comercial, da grande mídia e do patrocínio. Não é só um final de semana de pé na lama, preços inflacionados e emoção pelo artista favorito, mas um retrato do ecossistema que garante que determinado estilo musical esteja, ou saia do radar dessa cadeia de injeção capital.
Pensando nisso: a 300noise alimenta anualmente um banco de dados que auxilia nossas leituras sobre alguns festivais e o nosso público acaba recebendo alguns insights através de nossas tradicionais postagens “dissecando”. Fizemos isso com o The Town, Primavera Sound e Lollapalooza. Todas as informações coletadas são públicas, nós só organizamos elas. Construir um banco de dados ao longo das edições nos permite, sobretudo, acompanhar tendências de estilos musicais, construção ou perda de equilíbrio étnico, de gênero ou até mesmo de nacionalidades. Nosso objetivo é uma compreensão de direcionamento, afinal, curadorias são feitas através de análise de dados, diretrizes internas e posicionamento de marca, mas também sofrem imprevisibilidades, conflitos de interesse e disputas por demanda.
Com essa introdução, vamos aos dados do Lollapalooza...
A falta de conexão com a música latina
A primeira entrega de lineup do festival não só ignorava artistas dos países sudacas, mas também mostrava diferenças pontuais de nomes estrangeiros no evento, como o duo francês, Justice. Em uma segunda instância e aproveitando o buzz em cima do Tiny Desk, o festival anunciou a inclusão dos Hermanos Ca7riel e Paco Amoroso. É inevitável pensar na barreira linguística e cultural dos estilos musicais e artistas que bebam da influência de ritmos latino-caribenhos. No mesmo sentido, o festival parece trabalhar essa identidade ‘latina’ dentro do seu lineup em posts patrocinados citando duas atrações: o duo argentino Ca7triel e Paco Amoroso e o grupo The Marias que conta com integrantes de ascendência porto-riquenha, mas de formação, sonoridade e profissionalização californiana. O resultado é uma mescla do risco em trazer x a ânsia em comunicar latinidade para parte do público. Em um ano em que Bad Bunny finalmente começa a performar melhor em nossas terras tupiniquins, o Lollapalooza ainda se agarra no eixo euro-estadunidense, deixando potências, como Nathy Peluso, de fora dos palcos. E nesse caso, vamos pensar um pouco além do puro reducionismo “não custa o que vende” e compreender que a construção de um público consumidor de música latina é um processo lento, mas com inúmeras consequências positivas para o mercado. Infelizmente poucos tem a verba para se arriscar a construir essa ponte e olhar para a integração do Brasil na música latina, mas o Lollapalooza, bom, eles têm essa bala na agulha.